E a história é assim:
Era uma vez uma linda Margarida branca, que se achava a pior das flores, pois acreditava não ter cor, ser branca era muito sem graça.
Ela olhava as outras flores, todas coloridas, o sol, a lua, estrelas e tudo que existia tinha muita cor.
Menos ela.
Ela choramingou a todos que encontrava.
Um belo dia, várias borboletas apareceram no jardim e todas as flores começaram a se exibir, menos a Margarida. Todas desejavam que as borboletas posassem sobre elas, mas a Margarida não acreditava ser possível que acontecesse isso com ela.
Em dado momento, uma bela e muito colorida borboleta pousou sobre ela e todas as flores do jardim ficaram observando chocadas, inclusive a Margarida, que de pronto perguntou:
- Por que eu, linda Borboleta? Sou uma flor tão sem graça!
E a borboleta lhe disse:
- Porque o seu branco é simplesmente lindo! Tudo combina com ele. Ele realça minhas cores e eu fico mais bonita ainda.
A Margarida ficou muito contente e percebeu seu valor.
Essa história é um breve resumo de um livro infantil, que li aos meus alunos, do qual honestamente não me recordo o nome e que resolvi compartilhar aqui, depois de um bom tempo sem escrever.
Fiquei analisando o motivo da minha falta de inspiração nesses últimos dias e percebi o quanto a falta de sensibilidade atrapalha.
Hoje fui ao médico com meu pai e lá havia um casal de senhores que passariam com o mesmo médico, claro que me chamou atenção o fato de estarem envelhecendo juntos num tempo em que nada dura muito, mas aconteceu uma cena, e essa sim, meio subliminar, contida, rápida e de extrema sensibilidade foi o que realmente me cativou.
A sala de espera estava lotada e esse casal estava sentado um ao lado do outro, quando chega um outro senhor e mais que rapidamente o senhor com a esposa dá lugar a ele. A esposa lhe lança um olhar terno e um sorriso meigo e naquele momento eu simplesmente consegui captar a admiração, o respeito e o amor intrínsecos, mesmo em um gesto tão pequeno e entender que grandes construções são feitas de pequenos tijolos.
A beleza externa vai embora com o tempo, as marcas do tempo são implacáveis, mas aquilo que é construído, toda a cumplicidade e o valor do outro e de uma relação não acaba de um dia para o outro.
O que tem a ver um livro infantil sobre uma Margarida e um momento, de certa forma insignificante, de um casal de idosos?
Simples. Os dois se baseiam em pequenas coisas. Na percepção de pequenos momentos, do valor de si, de quem está ao redor e na beleza singela das coisas e isso as torna grandiosa.
Tenho a tendência a me ater a grandes realizações e na verdade, todos nós ou a grande maioria também faz isso. Coisas, pessoas e momentos grandes são importantes. São e devem fazer parte da vida. Mas perder o olhar sobre o que foi construído pode nos tornar insensíveis.
Quando conseguimos um bom emprego ou encontramos o grande amor da nossa vida, ou qualquer outra realização, nós as vezes perdemos a essência de tudo o que passamos, dos pequenos momentos, dos detalhes de como conseguimos ou nos tornamos determinada pessoa, e as vezes nos perdemos, porque na verdade somos feitos de pequenos detalhes.
Talvez, as pequenas coisas que fazem diferença na sua vida: rir até chorar, conversar sobre o tempo com um estranho na fila do banco, comer um chocolate no meio da tarde, lamber a vasilha do bolo, caminhar numa praça com um fone de ouvido, assistir a um filme bobo na Sessão da tarde, tomar um bom banho depois de uma dia estressante, dormir feito criança, acordar tarde num sábado, deitar na cama só para sonhar, ouvir música sem pensar em absolutamente nada, pegar um cinema numa terça a tarde, tomar sorvete e deixar cair na roupa, reencontrar pessoas, ficar com os amigos vendo TV, a primeira mordida numa bomba de chocolate e muitas outras coisas, tenham se perdido em meio a busca de alguma coisa.
Na verdade, eu acabei de listar algumas das coisas simples que fazem da minha vida um grande acontecimento e que dão sentido a ela. As vezes eu não percebo isso.
Não sei quais são suas pequenas coisas, meu caro leitor, mas assim como eu, deixo aqui o meu apelo para que você comece a percebe-las e talvez fazê-las mais e mais vezes... Tem uma frase do Arnaldo Jabor que gosto muito, ela diz assim: 'Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento'. Que seja o melhor!
Não é preciso caçar borboletas, basta ser simples, perceber coisas simples e com certeza as mais belas, coloridas, instigantes e extravagantes borboletas virão no seu jardim. Quando menos se espera. A beleza simples, aquela que é real atrai os melhores olhares e constrói as mais bonitas e longas relações.
Por fim, vou deixar um videozinho, nada para pensar, apenas pra apreciar, rir e achar graça... se você quiser!
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