terça-feira, 20 de setembro de 2011

Tá valendo quanto?

O fim do ano se aproxima e com ele muitas coisas. Você começa a parar pra pensar em como foi tudo, como você está e se realmente valeu a pena.


E porque eu estou falando nisso? 


Nós nos acostumamos a avaliar se nossos objetivos, sonhos e metas para aquele determinado período de tempo foram cumpridos.


Em meio a tantas coisas a gente se esquece de perguntar: E eu? Quem sou eu em meio a tanta coisa?


Vivemos num tempo em que os dias, as horas, os minutos e os segundos passam correndo. A gente voa contra o tempo para conseguir dar conta de tudo, dar conta das responsabilidades, dos problemas, do trabalho, da casa, dos estudos, dos compromissos sociais, dos amigos e até mesmo do descanso. A gente desaprendeu a pisar no freio, não sabe mais parar e simplesmente relaxar. O "tempo que nos sobra" nos enchemos de coisa, mesmo que o compromisso seja descansar, a gente não sabe mais como fazer isso e acaba ficando pensando: o que vou fazer com esse tempo? Como vou descansar?




O tempo é uma medida que pode ser devastadora. Traz rugas, marcas de expressão, canseira, idade e várias outras coisas que podem ser desagradáveis. Mas o que causou tudo isso? Morrer de tanto rir? Experiências ricas? Cansaço de tanto fazer coisas boas? Doença pra morrer de amor? O tempo e suas marcas são o que você faz deles.


No fim do ano, até as empresas, privadas ou públicas, costumam fazer sua avaliação. Aquela institucional, sobre seu rendimento no trabalho, suas ações, seu comportamento, sua criatividade. Me pergunto: É possível se medir quem somos? É possível medir sua capacidade? Será que esse tipo de coisa não quantifica gente de carne e osso? Gente pode ser quantificada? E a grande pergunta é: Quanto você vale?


Cada um tem o direito de ter uma opinião sobre você, seu trabalho, sua maneira de ser, mas e quanto a sua opinião sobre você mesmo? A vida não é feita de outros, é feita de você em conjunto com outros. Quantas vozes ecoam na sua cabeça?


O seu valor é muito maior do que os 100% de qualquer avaliação ou de qualquer opinião de qualquer pessoa. 


Gente de carne e osso é muito mais complexo do que números, mais difícil de entender, mais cheio de facetas do que qualquer diamante e mais subjetivo do que qualquer texto de Sartre, Morin ou qualquer outro filósofo, psicólogo ou que doutor for. Até pra dirigir você faz exames quantitativos.


O hábito de ser avaliado, julgado, já se tornou realmente um hábito, participante da modernidade, do mundo contemporâneo e do capitalismo selvagem.


Olhando as situações por fora, você percebe que a necessidade de resultados rápidos em tempo curtos é cada vez mais valorizado, nós somos medidos conforme reagimos como máquinas. Quanto mais você se torna um computador, mais você vale. Afinal, o prazo é curto, a solução é pra ontem e o amanhã? Ahhh... esse eu nem sei se vai chegar ou se o infarto vem antes!

Eu realmente não sei como estão as coisas com você, quais metas você realizou, o que deu certo, o que não deu, quanto você rendeu no seu trabalho e se você deu conta da sua vida particular em meio a esse turbilhão de coisas, mas eu sei que não há medida, régua ou qualquer outra coisa que meça o quanto você vale e o quanto eu valho.


A vida é feito de momentos e não de números. Não importa a quantidade deles, mas sim a qualidade e a sensação que cada um deles te deu. Não desperdice, pois eles não voltam. Não deixem que passem, pois não se repetem e não se exima de cada doce e amargo momento da vida, eles fazem parte de quem você é e de quanto você vale.


Se precisar seguir: siga. Se for necessário voltar: volte. Se ainda precisar recomeçar: vá correndo! Você vale mais do que qualquer intempérie e o tempo? Ele passa e como passa! 


terça-feira, 13 de setembro de 2011

O pão nosso de cada dia

...nos dai hoje.

Todos os dias pela manhã faço uma oração com meus alunos e resolvi ensiná-los a oração do Pai Nosso. É rápido pra que ela se torne mais algo decorado, religioso. E em meio a tantas coisas que em nosso dia já decoramos, a tantos problemas, enfim, tanta coisa na cabeça o tempo todo se torne realmente mais uma coisa.

Incrível, porque pra mim era realmente um aglomerado de palavras que supostamente me  fazia sentir falando com Deus, já que as mesmas estavam na Bíblia e sem perceber, sem sentir tudo isso começou a ser um vazio de palavras. Enquanto as recitava a minha total atenção não era voltada ao que estava falando, sem ao menos pensar pra quem aquele amontoado de palavras era direcionado.

Um dia me dei conta, de forma brusca e até atordoante de que nada daquilo estava fazendo sentido. Pelo menos pra mim.

A frase que mais me chamou atenção "O pão nosso de cada dia nos dai hoje" fez com que me sentisse tão distante de Deus. Porque? Simples, enquanto eu pedia a Deus o pão de cada dia, eu me preocupava com os próximos dez meses e meu coração e minha mente se debatiam dentro de mim, remoendo cada palavra, cada preocupação, cada anseio, cada problema, cada dor, como se ao invés de um novo dia pra viver, como presente, eu tivesse outros trinta anos, com os quais me preocupar.

Não sei se você já se sentiu perdido, pensando em cada dia que virá e nas consequências dos que já foram, ao invés de viver o presente. Eu acho que em algum momento da jornada, todos já se sentiram assim, pelo fato de que deixar de viver o presente é sobreviver. Isso tem diferença.

Sobreviver está muito ligado ao físico, água, ar, comida... e viver conectado a alma, espírito, prazer.

Deus nos dá um presente a cada dia, não para sobreviver, mas pra viver, Ele nos dá o pão nosso de cada dia. Não guarde o pão pra amanhã, pois amanhã tem outro e não é preciso ficar procurando, quando se abre os olhos pela manhã, ele está lá, esperando. 

Me lembrei daqueles israelitas, aos quais Deus os alimentava dia após dia com o maná, vindo diretamente do céu, e a ordem era que não armazenassem daquele alimento, pois no dia seguinte teria mais e se guardassem o pão, o mesmo ficaria embolorado. Mas o povo era teimoso e muitas vezes reclamava daquela comida providenciada por Deus e tentava guardar com medo de faltar.

Será que não fazemos isso?




A gente deixa mágoas, problemas, chateações, inimizades, impressões erradas, falta de perdão, pensamentos ruins, dores da alma e muitas outras coisas embolorarem dentro da gente, virarem podridão, até que em determinado momento nós não aguentamos o nosso mal cheiro, não suportamos a nós mesmos e continuamos ali, deixando os pães se amontoarem, podres. Teimamos em não confiar que o alimento fresco, novo e pronto pra ser consumido vai chegar, ficamos preocupados com os problemas que muitas vezes ainda nem chegaram.

Deus dá a cada dia o novo, mas o velho precisa sair para que esse novo tenha espaço para entrar.

Passar a vida sobrevivendo é morrer a cada dia um pouquinho, é matar a esperança de dia melhores pra sempre e insistir que a vida é um acúmulo de infelicidade e dor.

Refletir um pouco sobre uma oração tão cotidiana muitas vezes pode revelar muitas coisas.

E acrescento: O pão nosso de cada dia nos dai hoje e nos ajude a dar espaço em nossa mesa pra ele e aceitá-lo de modo que nos vivamos e não morramos tendo em posse o pão nosso de cada dia.