terça-feira, 13 de setembro de 2011

O pão nosso de cada dia

...nos dai hoje.

Todos os dias pela manhã faço uma oração com meus alunos e resolvi ensiná-los a oração do Pai Nosso. É rápido pra que ela se torne mais algo decorado, religioso. E em meio a tantas coisas que em nosso dia já decoramos, a tantos problemas, enfim, tanta coisa na cabeça o tempo todo se torne realmente mais uma coisa.

Incrível, porque pra mim era realmente um aglomerado de palavras que supostamente me  fazia sentir falando com Deus, já que as mesmas estavam na Bíblia e sem perceber, sem sentir tudo isso começou a ser um vazio de palavras. Enquanto as recitava a minha total atenção não era voltada ao que estava falando, sem ao menos pensar pra quem aquele amontoado de palavras era direcionado.

Um dia me dei conta, de forma brusca e até atordoante de que nada daquilo estava fazendo sentido. Pelo menos pra mim.

A frase que mais me chamou atenção "O pão nosso de cada dia nos dai hoje" fez com que me sentisse tão distante de Deus. Porque? Simples, enquanto eu pedia a Deus o pão de cada dia, eu me preocupava com os próximos dez meses e meu coração e minha mente se debatiam dentro de mim, remoendo cada palavra, cada preocupação, cada anseio, cada problema, cada dor, como se ao invés de um novo dia pra viver, como presente, eu tivesse outros trinta anos, com os quais me preocupar.

Não sei se você já se sentiu perdido, pensando em cada dia que virá e nas consequências dos que já foram, ao invés de viver o presente. Eu acho que em algum momento da jornada, todos já se sentiram assim, pelo fato de que deixar de viver o presente é sobreviver. Isso tem diferença.

Sobreviver está muito ligado ao físico, água, ar, comida... e viver conectado a alma, espírito, prazer.

Deus nos dá um presente a cada dia, não para sobreviver, mas pra viver, Ele nos dá o pão nosso de cada dia. Não guarde o pão pra amanhã, pois amanhã tem outro e não é preciso ficar procurando, quando se abre os olhos pela manhã, ele está lá, esperando. 

Me lembrei daqueles israelitas, aos quais Deus os alimentava dia após dia com o maná, vindo diretamente do céu, e a ordem era que não armazenassem daquele alimento, pois no dia seguinte teria mais e se guardassem o pão, o mesmo ficaria embolorado. Mas o povo era teimoso e muitas vezes reclamava daquela comida providenciada por Deus e tentava guardar com medo de faltar.

Será que não fazemos isso?




A gente deixa mágoas, problemas, chateações, inimizades, impressões erradas, falta de perdão, pensamentos ruins, dores da alma e muitas outras coisas embolorarem dentro da gente, virarem podridão, até que em determinado momento nós não aguentamos o nosso mal cheiro, não suportamos a nós mesmos e continuamos ali, deixando os pães se amontoarem, podres. Teimamos em não confiar que o alimento fresco, novo e pronto pra ser consumido vai chegar, ficamos preocupados com os problemas que muitas vezes ainda nem chegaram.

Deus dá a cada dia o novo, mas o velho precisa sair para que esse novo tenha espaço para entrar.

Passar a vida sobrevivendo é morrer a cada dia um pouquinho, é matar a esperança de dia melhores pra sempre e insistir que a vida é um acúmulo de infelicidade e dor.

Refletir um pouco sobre uma oração tão cotidiana muitas vezes pode revelar muitas coisas.

E acrescento: O pão nosso de cada dia nos dai hoje e nos ajude a dar espaço em nossa mesa pra ele e aceitá-lo de modo que nos vivamos e não morramos tendo em posse o pão nosso de cada dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário